Lendo as postagens das colegas e o bate-bola entre a Maria e a Neuza dá para ter uma noção do que seja trabalhar com a EJA e quando a Maria refere as dificuldades dos alunos e a dura realidade das comunidades carentes sugerindo a discussão do analfabetismo dos pais dos alunos lembrei de um fato que aconteceu numa das minhas turmas de 3ª série. Nesta turma havia um aluninho miúdo, alegre e risonho, muito querido e educado. Todo dia ele trazia de merenda um iogurte e sempre pedia: - Prô, posso levar meu orgut na cozinha prás tia colocá na geladeira? E eu respondia: - Pode, mas antes repita comigo \\\"iogurte\\\" . No início ele patinava umas quatro ou cinco vezes até sair a palavra correta, depois com o tempo ele dizia pela primeira vez errado mas na segunda tentativa saía correto. E assim foi durante quase todo o primeiro semestre, até que um dia começamos a aula e de repente bateram na porta, fui atender e era uma mãe com um potinho na mão e que me disse: Ô fessora, eu vim trazê o orgut do Macelo qui ele sisqueceu em casa. Sorri para a mãe acenando com a cabeça que sim e olhei para o menino que, num primeiro momento, olhou-me com um olhar assustado como que com medo que eu fosse fazer com a sua mãe o que fazia com ele, depois vendo que nada acontecia corou e reclinou a cabeça para o lado, mostrando-se envergonhado. A mãe entregou-lhe a merenda e fiz um sinal com a mão para que levasse na cozinha, ninguém tocou no assunto e eu pensei em nunca mais corrigí-lo e nem foi mais preciso pois ele nunca mais falou a palavra errada.
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
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2 comentários:
Sandra o seu relato é um grande exemplo! Gostei muito... mas você nunca mais tocou no assunto com seu aluno? Abraços
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