sexta-feira, 30 de outubro de 2009

DIFICULDADES NA APRENDIAGEM

Assim era o ensino há quarenta anos atrás e, assim ainda é o ensino hoje, com conteúdos fragmentados, em blocos, em fatias de um conhecimento que não desperta o interesse de quem está aprendendo, seguindo uma organização pré-estabelecida de conteúdos a serem vencidos através de unidades de trabalho, metodologias de projetos, temas geradores, eixos temáticos e outras diferentes maneiras de planejamento. Num modelo linear disciplinar não se consideram os interesses dos educandos, suas experiências e conhecimentos prévios, seus níveis de compreensão, seus ritmos e suas dificuldades de aprendizagem, o que se ensina, realmente, são habilidades relacionadas com a obediência e submissão à autoridade impedindo a reflexão crítica sobre a realidade e a capacidade de compreender, julgar e intervir na comunidade de maneira responsável, democrática, justa e solidária. Os professores preocupavam-se muito em manter o ritmo das tarefas, em desenvolver um sistema de memorização de dados e conceitos sem qualquer significação e em serem obedecidos enquanto os alunos, por sua vez esmeravam-se apresentar exercícios caprichados, comportamentos exemplares, perfeita memorização dos conceitos e dados enfim, receber as melhores notas que era o que realmente importava.
A relação que vejo entre as novas necessidades das economias de produção flexível e o sistema escolar é que enquanto o primeiro recorre a mudanças nas formas de gestão e organização do trabalho buscando melhorar os processos de produção e aumentar a comercialização, oferecendo aos trabalhadores maior participação nas tarefas, com programas de formação contínua e reciclagem trabalhista, o segundo não permanece indiferente e se compromete a qualificar pessoas com conhecimentos, habilidades e valores que se ajustem as novas transformações do mercado de trabalho


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

PRÁTICAS DE LEITURA, ESCRITA E ORALIDADE

Narrativas de Nícolas – 6 anos – 1º ano – Não alfabetizado
1 - Patinho Feio

O patinho era bem feio quando ele nasceu. Quando ele foi abandonado a mãe sentiu dó. Daí ele foi procurar alguém que queria ele. Daí, quando alguém quis ficar com ele, ele virou um belo cisnei.
Daí ele tava com fome e foi pescar “peixões”, daí ele foi passear um pouco e daí estava com calor e foi dar um mergulho na água fresquinha.

2 – Três Porquinhos

Era uma vez três porquinho, um quis fazer casa de madeira e veio o lobo e assoprou toda casa de madeira, aí se quebrou toda, se dismontou toda.
O outro quis fazer de palha, daí o lobo veio de novo e conseguiu assoprar, daí a casa se desmanchou toda e daí o outro porquinho quis fazer de tijolos e daí o lobo veio assoprar e ficou assoprando, assoprando e nunca conseguiu dimoli a casa.

Narrativa de Eric - 6 anos – 1º ano - Não alfabetizado
Patinho Feio

Era uma vez a mamãe pata. Ela tirou alguns ovos da barriga e daí alguns nasceram, 10 nasceram bonitinho e um nasceu feio e daí quando que encontraram a mamãe porca, a mamãe galinha e a mamãe gata com seus filhinhos e daí elas falaram “Que patinho feio!” Quem queria ficar com ele? E daí o patinho ficou triste e foi embora e daí ele encontrou o “cisnei” e o “cisnei” tava brincando de lutinha e daí ele viu que o patinho feio ia se “nusfoma” no “cisnei” e daí quando chegou no ano que ele ia se “nusfoma” ele se “nusfomo” num “cisnei” bem bonito e daí ele foi brincar de lutinha com os outros e daí o “cisnei” bonito derrotou todos eles.
Minha Análise

Entrevistei primeiramente o Nícolas, que tem 6 anos e freqüenta o 1º ano do ensino de 9 anos, ele é um menino esperto, desinibido, inteligente, tem boa dicção e um vocabulário bem variado, dando pistas que as pessoas com quem convive têm um bom nível de cultura e letramento pois, quando perguntei se ele gostava de histórias e se saberia me contar alguma ele respondeu com outras perguntas como “sei muitas mas que espécie de história tu quer ouvir?”. Respondi que a que ele mais gostasse e ele foi claro quando disse que a que ele mais gostava era muito longa e ele não saberia contar toda. Eu lhe disse então que poderia ser qualquer outra e ele optou pela do Patinho Feio. Depois perguntou se poderia contar outra pois achou-a muito curta. Concordei e ele contou a dos Três Porquinhos, mas ainda assim não ficou satisfeito e teria insistido em contar outra se não tivesse dado o sinal para o recreio.
Percebi claramente o desenvolvimento cognitivo e afetivo na narrativa de Nícolas, pois como li em Gurgel, 2009, “ adquirir a fala é um passo transformador em termos cognitivos, uma vez que é a linguagem que organiza o pensamento” e isto o garoto demonstrou compreender muito bem ao separar a ficção dos contos de fadas (onde animais falam ) do real.
na narrativa de Eric encontrei a combinação entre a ficção e o relato de experiências, quando refere a brincadeira de lutinhas e a vitória do personagem principal. Pude constatar também que Eric é uma criança com muitas dificuldades de dicção, pouco vocabulário, dificuldade de expressar-se sinalizando conviver com pessoas mais humildes com baixa escolaridade e que seus modelos de comunicação na família têm um vocabulário mais restrito, e oferecem poucas oportunidades de construção da sua oralidade. Resta à professora estimular a imaginação do pequeno nas rodas de conversa, nas leituras dos textos, na exploração oral e dramatização das historinhas e no espaço potencial que é uma área de experiência onde a criança pode brincar com a realidade, pode dar sentido pessoal aos elementos do ambiente elaborando-os à sua maneira com liberdade de criação para que aprenda a construir narrativas estimule a atividade mental e então desenvolva a oralidade.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Fórum EJA

Lendo as postagens das colegas e o bate-bola entre a Maria e a Neuza dá para ter uma noção do que seja trabalhar com a EJA e quando a Maria refere as dificuldades dos alunos e a dura realidade das comunidades carentes sugerindo a discussão do analfabetismo dos pais dos alunos lembrei de um fato que aconteceu numa das minhas turmas de 3ª série. Nesta turma havia um aluninho miúdo, alegre e risonho, muito querido e educado. Todo dia ele trazia de merenda um iogurte e sempre pedia: - Prô, posso levar meu orgut na cozinha prás tia colocá na geladeira? E eu respondia: - Pode, mas antes repita comigo \\\"iogurte\\\" . No início ele patinava umas quatro ou cinco vezes até sair a palavra correta, depois com o tempo ele dizia pela primeira vez errado mas na segunda tentativa saía correto. E assim foi durante quase todo o primeiro semestre, até que um dia começamos a aula e de repente bateram na porta, fui atender e era uma mãe com um potinho na mão e que me disse: Ô fessora, eu vim trazê o orgut do Macelo qui ele sisqueceu em casa. Sorri para a mãe acenando com a cabeça que sim e olhei para o menino que, num primeiro momento, olhou-me com um olhar assustado como que com medo que eu fosse fazer com a sua mãe o que fazia com ele, depois vendo que nada acontecia corou e reclinou a cabeça para o lado, mostrando-se envergonhado. A mãe entregou-lhe a merenda e fiz um sinal com a mão para que levasse na cozinha, ninguém tocou no assunto e eu pensei em nunca mais corrigí-lo e nem foi mais preciso pois ele nunca mais falou a palavra errada.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Currículo Integrado

A relação que vejo entre as novas necessidades das economias de produção flexível e o sistema escolar é que enquanto o primeiro recorre a mudanças nas formas de gestão e organização do trabalho buscando melhorar os processos de produção e aumentar a comercialização, oferecendo aos trabalhadores maior participação nas tarefas, com programas de formação contínua e reciclagem trabalhista, o segundo não permanece indiferente e se compromete a qualificar pessoas com conhecimentos, habilidades e valores que se ajustem as novas transformações do mercado de trabalho
Penso que a relação entre a economia flexível com o sistema escolar se traduz na formação de pessoas capacitadas a agir de forma ativa, deixar de ser apenas executor de tarefas e passar a buscar e produzir soluções,desenvolver idéias, customizar recursos, produzir mais com menos, a otimizar recursos tendo sempre em vista a melhoria contínua dos produtos e da sua qualidade de vida

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

LETRAMENTO ESCOLAR

Enquanto lia o texto de Kleiman, lembrei de um fato que demonstra bem o tipo de letramento utilizado pela escola: uma sobrinha de sete anos e estudando na segunda série, perguntada de como estava na escola disse - me que estava gostando muito e que já sabia várias coisas mas que estava triste porque numa prova tinha errado uma coisa que a professora não tinha ensinado. Perguntei-lhe o que foi e ela ingenuamente me respondeu que a professora sempre ensinava as horas num relógio redondo e com todos os números (de 1 até o 12 ) e na prova tinha só relógio quadrado com quatro números e por isso ela tinha errado. Isso aconteceu há uns seis anos atrás, agora já acho difícil que aconteça já que as crianças desde três ou quatro anos reconhecem vários tipos de relógios desde os digitais em canetas e aparelhos eletrônicos até os mais simples das lojas de preço popular.
Outro caso que me veio à lembrança durante a leitura do texto foi de um aluno meu na terceira série. Este menino tinha uma letra ilegível, que muitas vezes nem ele sabia o que tinha escrito mas, realizava mentalmente cálculos matemáticos extremamente corretos e rápidos, também não conseguia desenvolver o cálculo no caderno. Esse aluno acompanhava o pai, que vendia verduras em uma carroça, desde os cinco anos.
Atualmente, o mundo moderno, onde as tecnologias avançam assustadoramente e nos impulsionam a novas aprendizagens, exigindo novos conhecimentos a todo momento na vida prática, faz das pessoas, desde a mais tenra idade, um observador, um autodidata, que questiona e exige dos educadores uma nova postura que atenda às suas inquietações.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Alfabetização e empowerment


Há alguns anos que uma grande parte dos profissionais da educação dedicam-se a desenvolver, em seus alunos, a alfabetização crítica como prática social. Com o objetivo de formar cidadãos cônscios de seus direitos e deveres, consideram que um projeto ético e político permitiria, às pessoas, a compreensão e transformação da sociedade. Com uma pedagogia transformadora, os interesses políticos que influenciam grupos empresariais e escolas com seus currículos direcionados ao mercado de trabalho enfraquecem, acabando com a conformidade social e a dominação. O analfabetismo, além de ser a incapacidade de ler e escrever, é usado como indicador de privação cultural. O letramento, como condição necessária às lutas da vida moderna, dá voz às pessoas tanto na formação da sociedade quanto no governo dela.
Os debates a respeito da escolaridade proporcionam uma reflexão transformadora na condição humana de repressão e dominação.