segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais

Reflexão referente ao EIXO VI
08 a 14/11

Um primeiro contato...


Meus pais moravam no atual Bairro Jardim Botânico desde a década de 30. Há mais ou menos 50 anos atrás ( eu tinha uns 5 ou 6 anos ) chamava-se Bairro São Luís. Este bairro fica entre a Avenida Bento Gonçalves e a Avenida Protásio Alves, isto é, entre o Hospital Psiquiátrico São Pedro e a colônia agrícola, que abrigava os pacientes menos agressivos e servia para ocupá-los na plantação de hortifrutigrangeiros que reforçava a alimentação do hospital. Esta colônia ainda está lá ( mas não sei se continua com a mesma finalidade ) e fica na atual perimetral ( Av. Salvador França ) atrás do Jardim Botânico . Meu avô paterno, dois filhos e dois genros trabalhavam no hospital e moravam na colônia com funções de dar ocupação e cuidados àqueles seres excluídos e abandonados pelas famílias por trazerem todo tipo de constrangimento frente a sociedade.
Mesmo não morando neste bairro, vínhamos quase todas as tardes e os finais de semana, tendo uma convivência muito harmoniosa com toda a família.
Muitos dos pacientes do hospital, andavam de lá prá ca e daqui prá lá em pequenos grupos ou sozinhos e nós os conhecíamos pelos nomes que eles mesmos adotavam. Assim, conhecíamos o Gravatinha ( +ou- 42anos ), que gostava muito e sempre andava de terno e gravata. Este, além de problemas mentais tinha problemas também nas cordas vocais já que não se entendia quase nada do que falava, ele gostava muito da minha tia, que tinha quinze anos na época, e fazia verdadeiras declarações inclusive pedindo-a em casamento que era entendido só pelos gestos. Tinha o Dedeco, que fazia pequenos serviços por um copo de cachaça - e havia sempre quem desse - e por isso estava sempre bêbado. Tinha o Salamito que era um senhor de seus cinquenta e poucos anos, barrigudo, que usava sempre camisa social, de boa qualidade e calças xadrez com suspensórios. O Salamito sempre parava para conversar onde havia crianças, ele tinha sempre, nos bolsos das calças, pacotes com balas e rapaduras para distribuir, conversava fluentemente e contava ser de família caxiense muito rica e que estava lá por ter enloquecido ( ele, eventualmente, ainda tinha surtos ) ao perder a esposa que amava muito, logo após o casamento. Lembro ainda do Molóide, chamado assim por ser muito vagaroso, com movimentos muito lentos e passos arrastados. Ele usava sempre um chapelão de palha com aba muito larga, falava muito pouco e sussurrado. Eles eram muitos mas estes foram os que mais marcaram na minha memória.
Naquela época, não nos detínhamos na observação das reações mentais daqueles indivíduos diferentes, apenas os conhecíamos e os respeitávamos como pessoas doentes, frágeis e sensíveis ao nosso trato.

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